Entrevistas

Fotos retiradas da rede social
do entrevistado
Jurani Oliveira Clementino é cearense da região do Cariri, mais especificamente do município de Várzea Alegre. Vive em Campina Grande na Paraíba há muitos anos, onde atua como professor em instituições públicas e privadas de ensino. Jornalista, é mestre pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e doutor pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E também é escritor; a parte de sua trajetória que mais nos interessa. Nas próximas dez perguntas, Tijura, como é conhecido em algumas redes sociais, vai nos contar um pouco dessa trajetória e das inspirações e escritas de Memórias Sertanejas (2019 - crônicas), Forró no Sítio (2018 - Crônicas) e Zé Clementino: o 'matuto' que devolveu o trono ao Rei (2013 - Biografia). Desde fevereiro que Namorinho de Sofá vem “cozinhando” essa prosa, mas agora, após definidas as dez perguntas no vasto material proporcionado pelo jornalista-professor-escritor, esperamos que gostem das nossas escolhas. (Concedida em outubro de 2019,  para Carol Cavalcanti).
1) Jurani, funcionamos assim. São 10 perguntas, você fica livre para responder como quiser. São somente 10, mas, liberdade na sua escrita. Então, quem era o Jurani de Várzea Alegre e quem é hoje, o ‘Jura’ de Campina Grande?
O Jurani de Várzea Alegre era um menino sonhador, nascido e criado na zona rural. Filho de uma professora primária e um agricultor metido a poeta, repentista. Amante da leitura, que sempre gostou de estudar, que ouviu muitas histórias narradas apaixonadamente pelos mais velhos, que corria pelos terreiros empoeirados, que tomava banho de açude, se divertia na chuva.... enfim, um menino com um cotidiano igual a tantos outros que por ali residiam.

Em Campina Grande, o Jura (para os amigos), Tijura (para os alunos) ou Jurani (para os demais), tornou-se um jovem urbanizado, formou-se em jornalismo, especializou-se em Comunicação e Educação, fez Mestrado e Doutorado na área de Ciências Sociais, trabalhou em redação de TV (televisão Paraíba), entrou em sala de aula como professor (FAVIP, CESREI, NASSAU, UEPB), publicou livros, foi eleito para a Academia de Letras de Campina Grande.... Acho que o menino sonhador do Ceará realizou, em grande medida, seus desejos infantis. Naturalmente que ele continua sonhando e espera seguir sempre com muitos sonhos e desejos.

2)   Por que escolheu Campina Grande para viver e qual influência à Rainha da Borborema tem na sua vida de escritor?
Eu não escolhi. Eu desconhecia Campina. Eu só soube da existência de Campina Grande depois que vim parar aqui trazido por uma professora que me conheceu lá em Várzea Alegre. Ela leu um texto meu, olhou pra mim e disse: você vai fazer faculdade para que curso? E eu disse que ia fazer direito porque não tinha outra opção. Porque ia prestar vestibular na cidade do Crato e lá só tinha os cursos de Direito, Economia e Administração. Mas, disse ainda que gostaria de fazer Jornalismo. E foi então que ela me respondeu: você vai fazer Jornalismo em Campina Grande porque seu texto já é jornalístico. E ela mesma fez minha inscrição no vestibular, me recebeu na casa dela para fazer a prova e depois me deu abrigo por muitos anos. Então eu agradeço a ela (Maria Aparecida Albuquerque), a Deus e ao acaso. É uma história muito longa e da qual tenho muito orgulho. Isso não acontece todo dia e não acontece com todo mundo. Isso foi no ano 2000. E no ano seguinte em vim morar em Campina Grande.

A Rainha da Borborema me encantou desde o primeiro momento. Desde então eu sabia que essa era a cidade que eu queria morar. Hoje é daqui que eu produzo meus textos. É aqui onde busco inspiração para minhas histórias. Eu ainda não escrevi um grande texto (conto, romance etc) ambientado na cidade de Campina, mas acho que isso ainda vai acontecer. Na verdade, eu tenho compreendido melhor o meu passado no Ceará estando geograficamente e socialmente distante de lá. Acho que Campina ainda vai ser melhor compreendida por mim no futuro.

3)   Nos conte, por favor, como foi conquistar Nova Iorque. Na verdade, como se deu todo o processo, desde resolver concorrer ao prêmio da Livraria Cultura, a escolha ou escrita do texto, até chegar aos arranha-céus de NY.
Bem, Nova Iorque foi outro acaso. Lembro que estava no instagram, e me deparei com um vídeo no perfil da Livraria Cultura de São Paulo. Era uma imagem aérea da Estátua da Liberdade. Daí fui ler a legenda para saber do que se tratava. E lá tinha as informações sobre o concurso em comemoração aos 70 anos da livraria. Tratava-se de um concurso nacional de crônicas cujo tema era: como a cultura te transforma. Isso foi por volta do dia 29/30 de setembro de 2017. E o vencedor desse concurso ganharia essa viagem a NY. Imaginei que poderia participar já que escrevo crônicas desde muito jovem. Mesmo que não ganhasse seria legal que as pessoas me lessem. Ai fui pensar em algo especialmente para esse concurso. E no edital eles preferiam aquelas histórias que tivessem alguma relação com a livraria cultura. Foi então que me recordei de que em 2002, durante uma greve na UEPB eu voltei para o Ceará e depois fui parar em São Paulo. Trabalhei como metalúrgico por três meses na região do ABC paulista. Uma loucura! E num dia de folga, talvez um sábado ou domingo, fui a Avenida Paulista e, por acaso, entrei na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Pronto! Eu já tinha a pauta para minha crônica. Então, eu rascunhei a ideia no celular e depois coloquei no computador. E acabou sendo uma crônica meio biográfica porque além de contar um pouco da minha história de menino do sítio, da minha relação com a historia oral, com a leitura e depois com a escrita eu digo o quanto foi importante e encorajador para mim, chegar àquela livraria e me deparar com os autores que eu sempre sonhei conhecer, com os livros que eu sempre desejei ter, com aquilo que eu mais quis a vida toda: torna-me escritor. O texto fluiu como num estalar de dedos. Veio tudo de uma vez. Em questão de minutos a crônica estava pronta. É tanto que todo dia 30 de cada mês se encerravam as inscrições porque foi um concurso que se estendeu de julho a dezembro de 2017 e cada mês um autor vencia, totalizando seis no final. Inscrevi na ultimas horas do dia 30 de setembro e fui o vencedor daquele mês. E em 15 de janeiro de 2018, quando saiu o resultado final, a minha crônica “O menino da cultura” foi a grande campeã. Foi assim que cheguei à Nova Iorque.      

4) A pergunta anterior tem um motivo, sabe Jurani. Viver das letras, querer ser escritor.... haja coragem! Você tem várias atribuições, não vive somente da escrita, apesar de ela ser ferramenta essencial para o professor. Se fosse um coach, desses motivacionais que vemos hoje em dia, o que diria para uma pessoa que quer ser escritora? Como a motivaria? As pessoas acham minha história inspiradora. De certa forma, eu até concordo com elas, mas eu não tenho perfil para ser coach. Às vezes eu acho até desumano aquele discurso de que você pode, você é capaz, vai dar certo, você é o dono da sua história blá blá blá... Eu tenho medo disso. Eu diria que a primeira coisa que alguém que tem interesse em ser escritor deve fazer é ler muito e exercitar cotidianamente a escrita. Leia e escreva muito. Hoje nós temos a facilidade de divulgar isso para um número significativo de pessoas, leitores etc. Então faça isso. O mercado editorial é muito fechado e caro. Publicar um livro tem um custo e traz pouco retorno para quem é iniciante. Eu mesmo não vivo dos livros que produzo, até que gostaria, mas pago minhas contas com as aulas que eu dou dia e noite, de segunda a sexta. Mas a gente tem uma galera jovem muito produtiva e bastante criativa. Eles estão descobrindo nichos e trabalhando linguagem e enredos específicos para esse público. Descubra o seu. Pratique. Veja as possibilidades de publicação. Submeta seus textos a apreciação pública. Isso é fundamental.  

5) Sobre sua produção literária, por que o interesse ou a necessidade de escrever a biografia “Zé Clementino: o 'matuto' que devolveu o trono ao Rei (em 2019 o livro alcançou sua segunda edição pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba – EDUEPB)?
A biografia do Zé Clementino foi uma questão de justiça. Embora ele seja muito importante na obra de Luiz Gonzaga, Zé era pouco citado. Não havia um trabalho de fôlego sobre ele. Então eu achei que deveria fazer isso. Aproveitei o ano de 2012, centenário de nascimento de Gonzaga, e propus a editora da UEPB produzirmos a biografia desse compositor autor de grandes sucessos interpretados pelo Rei do Baião como “Xote dos Cabeludos”, “Capim Novo”, “Sou do Banco”, “O Jumento é Nosso irmão”.... entre outros e a editora topou publicar o livro. Escrevi em 2012, mas só saiu em 2013 e para minha surpresa o livro ganhou uma repercussão tão grande e imediata que fiquei assustado. Fãs, colecionadores, pesquisadores da obra de Gonzaga logo tomaram conhecimento do livro e passaram a adquirir. Em 2014 recebi um prêmio em Caruaru – PE por conta do livro. Descobri que Zé Clementino era muito querido por todos aqueles que se interessavam pelo trabalho musical de Luiz Gonzaga.

6) Por outro lado, as inspirações são óbvias de “Forró no Sítio (2018), mas... muita coragem escrever sobre o Nordeste e o meio rural no Brasil. Seria uma escrita de resistência? Eu acho que sim. Eu não espero mudar o mundo, mas eu quero ser ouvido, lido, assistido. O meu sertão é um sertão de memórias e histórias, mas sem deixar de ser um sertão de denúncia contra a opressão, contra a omissão, contra os abusos de poder... não é um sertão de fantasias. Eu trato de questões reais, de pessoas de carne e osso, de sentimentos, alegrias e tristezas. E fico feliz quando as pessoas chegam para mim e dizem que se identificam muito com o que escrevo. Eu sou a voz de muita gente. Pessoas simples que gostariam de falar algo e muitas vezes não sabem como dizer. Para mim isso é resistir. Quero dar voz aos silenciados. Aos vencidos. 

7) Jurani, “Fazendo a Festa: as sociabilidades dos migrantes varzealegrenses em São Paulo e no Ceará”, seu novo livro lançado pela EDUEPB em 2019, é resultado da sua tese de doutorado. “Memórias Sertanejas: Tardes, calçadas, redes e alpendres”, lançado pela Editora Coerência, também foi lançado neste ano. Uma loucura essa questão editorial no Brasil! Dois livros em um ano só! Jurani Clementino é um fenômeno literário?
Não. É um ato de resistência, ousadia e otimismo. Eu escrevo muito. Estes livros citados acima tratam de uma coleção de crônicas (Memórias Sertanejas) e de um trecho da minha tese de doutorado (Fazendo a Festa...). Este último é um texto mais denso, uma escrita mais técnica, mais trabalhosa, que demanda muito mais tempo, mas foi um trabalho que eu gostei de fazer também. Analisa o processo de sociabilidade de um grupo de migrantes cearenses em espaços urbanos e rurais divididos entre São Paulo e Ceará.

8) Mudando um pouco de assunto, você gosta muito de fazer vídeos, dos mais diversos, uns mais sérios e outros mais informais, como suas viagens ou mesmo sua convivência com as coisas da terra, do sertão de Várzea Alegre. Como essas ferramentas e vivências ajudam na concepção e na divulgação do seu trabalho?
Ali eu “tiro onda” com algumas situações, mas eu gosto também de mostrar um pouco das minhas origens, da minha cidade, do sítio onde moram os meus pais. Aqui acolá coloco opiniões políticas, embora eu tenha evitado expor essas questões nos últimos tempos porque o cenário não é muito favorável para isso. As pessoas estão muito armadas. A gente vive um maniqueísmo absurdo. Ou você presta ou não, ou você é do bem ou é do mal, não há espaço para o diálogo... então, eu prefiro me policiar nas redes sociais. Mas é um ambiente riquíssimo e maravilhoso para divulgação de seus trabalhos. Eu compartilho muito do que faço nas minhas redes. Meu trabalho como escritor, minha atividade como professor, meu ofício de jornalista. 

9) Estamos chegando perto do final da nossa conversa. Nos diga: professor, escritor ou jornalista? (Jurani assina uma coluna no ParaibaOnline) Se tivesse que escolher apenas uma das profissões, qual seria e por quê? Acho que elas não podem viver em separado e eu não suportaria ter ser apenas uma delas. Elas se retroalimentam e me dão vida. Hoje eu só estou vivo porque escrevo, porque ensino, porque aprendo, porque procuro atribuir sentido as ações humanas através de minhas profissões. E tudo tem mais sentido quando reúno em mim essas diversas profissões e coloco elas para me ajudar a entender as coisas a minha volta.

10) Bom, novos projetos? O espaço está aberto para dizer o que vier na “telha”. Agradecemos sua disponibilidade e espero que tenha gostado do bate-papo, de nossa informalidade, pois acreditamos que divulgar à cultura, não importa seu formato, é nossa missão (com toda a humildade do mundo, claro!).
O escritor quer produzir um romance, quer ainda publicar um livro de contos que já está pronto e outro de poesia que também já foi concluído. O professor quer força e coragem para poder continuar acreditando nesse mundo cruel e muita disposição para incentivar meus alunos. E por enquanto, o jornalista prefere ser usado pelo escritor. 
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O que dizer de Val Margarida... Um encanto? Uma supermãe que resolveu ser artista plástica e expor seus quadros pelas paredes de casa e pelos corredores da universidade? Ah, sim, ela é professora, também. Mulher, mãe, professora e pintora. Será que tem mais? É também uma pessoa bem resolvida quanto suas posições políticas e não parece gostar de injustiças. Basta pegar a lista de pessoas bloqueadas em suas redes sociais. Sim, e ela é muito engraçada também! Sem muita conversa, vamos ver como ela se sai respondendo a Namorinho de Sofá, que desde sempre é fã incondicional da mãe, da professora, da pintora e de todas as “Vals” que existem dentro dela. (Concedida em julho de 2018, para Carol Cavalcanti).

1) Quem é essa nova Val Margarida e por que ela começou a pintar?
Não tem uma nova Val Margarida. Sou eu, mesma, desde sempre. Com todos os meus defeitos e virtudes. Sou mulher, gorda, feminista, mãe com muito orgulho e muito amor, sou esposa, professora, artista plástica, sou gente que ama gente. Desde sempre eu tenho certeza do lugar que ocupo nesse mundão. Desde sempre eu quero ser gente que ama e que acolhe. Venho de uma família de artistas. Meu pai é artista popular (Zé do Pife), meu irmão é músico, minhas irmãs pintam melhor do que eu. Não sei tocar, não sei dançar.... Preferi enveredar pela pintura e a minha paixão pela arte popular é muito grande. Pinto desde 2001. Eu e minhas irmãs pintamos algumas obras que estão espalhados por nossas casas. Só em 2017 é que resolvemos publicar as nossas obras. Com a internet, as informações chegam mais facilmente às pessoas. Só uma primeira publicação em uma rede social teve milhares de curtidas. Os amigos começaram a incentivar e a comprar as minhas obras. Não esperávamos tanta aceitação. Foi uma grande surpresa.  
Voltei a pintar por uma questão pessoal. Precisava de algo que me acalmasse tanto quando a comida. Resolvi comprar telas e tintas para substituir os doces. Venho passando por um período de sofrimento muito intenso nos últimos anos. O meu marido tem esclerose múltipla e desde 2014 vem apresentando pioras no quadro. Temos poucos instantes de trégua. É uma doença que não tem cura e é progressiva. Acompanhá-lo nesse percurso tem sido uma das tarefas mais difíceis da minha vida e a pintura me ajuda a lidar com o sofrimento. Costumo dizer que estou colorindo a minha dor. É que colorida, fica mais fácil lidar com ela.

2) Por que Arte Naïf? Por que a escolha dessa forma de expressão? Na verdade, em que consiste esse tipo de expressão. Pode nos explicar?
O termo naif é de origem francesa que significa ingênuo. Os artistas naifs não possuem formação acadêmica, são autodidatas que inventam um jeito pessoal de expressar suas emoções. Ainda na década de 90, como professora da educação básica, conheci algumas obras da artista naif Irene Medeiros. Fiquei encantada com a simplicidade dos desenhos e as cores exuberantes utilizadas pela artista. Anos depois, quando era Coordenadora Pedagógica de uma escola particular aqui de Campina, tive a oportunidade de conhecer melhor a vida e as obras da artista. Desde aquela época me apaixonei pela arte naif. Sempre tive vontade de pintar, mas só depois é que iniciamos, eu e minhas irmãs, a pintar algumas obras para as nossas casas. Só em 2017 é que criamos um espaço virtual (Ateliê Margarida) em uma rede social para divulgar os nossos trabalhos. Não tive a intenção de pintar para vender.  Com o trabalho e a família, quase não tenho tempo para pintar. Pinto nas madrugadas, quando estou só. Às vezes passo três semanas, um ou dois meses pintando uma mesma tela. Me ocupar colorindo uma tela me faz esquecer a minha dor.

3) Como se dá seu processo de inspiração? O pouco que conhecemos das suas obras, você apresenta muito o universo feminino nas suas pinturas. A homenagem que você fez a Mariele...nossa, que beleza! Que sensibilidade!
A minha inspiração vem da nossa cultura (Bumba meu boi, Festas Juninas), da religiosidade (Iansã, Oxum, Padim Ciço), da nossa história. Sempre anoto em minha agenda algumas idéias. Gosto de pintar o universo feminino, crianças, cenas da África. Pintar a África é resgatar a minha história, a história do meu povo. A minha identidade é negra. Tenho uma série de obras intituladas cenas da África. A homenagem a Marielle foi uma forma de expressar a minha indignação e a minha tristeza com a violência e a injustiça no Brasil. Gostaria muito de entregar essa obra a família dela. Foi feita com muito carinho e é um símbolo de que o que fazemos aqui nos eterniza. Marielle deixou um grande legado. A luta pelas minorias é necessária especialmente em um país tão desigual.


4) Você já expos em alguns lugares, inclusive no 1º Festival Internacional de Arte Naïf, que ocorreu em Guarabira, aqui na Paraíba. Conta como foi essa experiência. 
Sou muito grata ao artista de Guarabira Adriano Dias. Ele é o idealizador e o curador do FIAN. No início do ano me convidou para  enviar algumas obras para o Festival para que estas fossem avaliadas. Fiquei muito feliz ao ter duas obras aprovadas para o Evento. Penso que a minha participação no festival me consolidou como artista naif. Esse segmento é composto por artistas brilhantes, consagrados internacionalmente. Adriano Dias é extremamente generoso e acolhedor. Tenho sido muito bem recebida nesse universo pelos demais artistas. A minha primeira exposição foi internacional o que significa que comecei com o pé direito. Estou feliz e surpresa, ao mesmo tempo. Neste momento quero produzir. Quero aperfeiçoar a minha arte. Quero me encontrar melhor para poder experimentar outros vôos. 


5) Você é uma mãe adotiva. Tem dois filhos lindos. Nas redes sociais você vive se divertindo com as pessoas que fazem perguntas imbecis sobre você ser a avó das crianças ou coisas do tipo. Já sabemos do seu bom humor em relação a isso; é também uma inspiração para o ato de pintar? É uma forma de desopilar deste mundo que anda tão cruel com os seus? 
Como venho de uma família muito humilde, não tive o privilégio de estudar nas melhores escolas para ter acesso à Universidade com mais facilidade. Sempre foi tudo muito difícil. Então, desde a adolescência tinha muito claro que primeiro estudaria e só depois é que teria os filhos para que eu pudesse proporcionar a eles o conforto que não tive. Nessa aventura, Cursei Pedagogia na UFPB e Direito na UEPB. Tudo ao mesmo tempo enquanto trabalhava no turno da tarde. Costumo dizer que Pedagogia eu fiz direito, mas Direito foi só para arranjar um casamento. Foi lá em direito que conheci o amor da minha vida. O meu diploma serviu só para isso. Passei mais alguns anos me dedicando ao trabalho. Fui professora da Educação Infantil, do ensino Fundamental e Coordenadora Pedagógica de Escolas Públicas e Privadas daqui de Campina. Início de 2000 fiz o mestrado em Letras na UFPB e fiquei mais encantada ainda por essa área. Por isso, fiz a Licenciatura em Letras pela UFPB Virtual. Enquanto, ainda, fazia o Curso de Letras, fiz o Doutorado em Educação pela UERJ. Nesse percurso não cabia filhos na minha agenda. Foi a escolha certa. Quando engravidei, em 2010, por conta do peso, perdi com seis semanas. A adoção sempre foi o plano B. Jamais pagaria por um tratamento caro para engravidar. Em 2012, após defender a minha tese e passar no concurso para professor efetivo da UEPB, não tive dúvidas de que estava pronta para adotar. Adotamos um menino de 10 anos que estava em um abrigo em uma cidade vizinha. No ano seguinte, a justiça nos chamou para nos dar a guarda do irmão dele que estava com 6 dias de nascido. Estamos concluindo a adoção este mês.  Ainda estamos na fila e ainda não sei se vou adotar mais um. O coração ainda é fértil. As pessoas sempre perguntam se o pequeno é meu neto. Sempre brinco dizendo que comecei a parir agora, que vou ter mais. Isso não me causa sofrimento ou se torna motivo de inspiração para a pintura. As pessoas estão muito presas a padrões. Tem idade para isso, para aquilo... Não sigo padrões. A minha família foi formada com muito amor. Temos o DNA da alma. Podem pensar o que quiserem. O fato de perguntarem se o pequeno é meu neto só me diverte. Nunca me chateia, não me constrange, não muda em nada a minha vida. Tenho um orgulho danado de ser quem eu sou, de ser mãe depois dos 45.  

6)Nós já ganhamos uma obra sua. Por que suas obras não estão à venda? Talvez, signifique algo mais para você do que o trabalho em si... mensurar inspiração, distração, relaxar através da produção artística.... Seria o ato de doar? 
As minhas obras estão à venda no Ateliê Margarida. Lá elas dividem em qualquer cartão de crédito. Algumas pessoas têm procurado e adquirido as nossas obras. Mas... presentear é a minha preferência. Adoro presentear. Eu me apego a cada obra e fica difícil me desfazer de cada uma. Também não tenho paredes em minha casa que dê conta de tanta produção. Além das minhas telas, eu coleciono arte naif e tenho obras de alguns artistas do Brasil. Quando presenteio os amigos, eu sei onde a obra está, como ela vai ser tratada, sei do carinho que eles terão por ela. Cada obra é um filhote. Nela tem inspiração, distração e tem muita dor... Sempre que pinto estou tratando a minha alma, o meu sofrimento. Pinto muito no meu quarto, ao lado de uma cama hospitalar. Cada cor que coloco na tela serve para me acalmar. É uma forma de colorir a minha dor, o meu sofrimento. Esse sentimento precisa ser compartilhado com os amigos. Eu sei que eles entendem e eu sinto o carinho de cada um deles com os meus trabalhos. Vender é bom, mas presentear é maravilhoso. Tenho uma lista de mais de 50 pessoas que quero presentear com uma obra antes de morrer. Essa lista só cresce e isso é bom porque significa que não posso morrer antes de cumprir essa tarefa. (Risos)

7) Val, como a pintura mudou a sua atividade docente? A arte é muito importante na escola né. Fica complicado olhar para o futuro sem arte... você gosta de dizer que a arte te salva. Explica melhor, por favor. 
Sem dúvidas, a arte é muito importante na escola em todos os níveis, desde a educação infantil até a universidade. A minoria dos brasileiros frequenta cinema uma vez no ano. Quase todos os brasileiros nunca frequentaram museus ou jamais frequentaram alguma exposição de arte. Mais de 70% dos brasileiros nunca assistiram a um espetáculo de dança, embora muitos saiam para dançar. Grande parte dos municípios não possui salas de cinema, teatro, museus e espaços culturais multiuso. A escola é uma luz no fim do túnel quando se trata do acesso à arte. Tenho visitado muitas escolas da rede municipal divulgando a minha arte. Gosto muito de pintar cenas da África, tenho uma série de pinturas com esse tema. Pintar a África é pintar os meus ancestrais, a minha origem, a minha história. Isso tem chamado a atenção dos professores que trabalham com a questão afro em sala e eles tem me convidado para levar minhas obras para a escola.  Fui professora da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. Amo encontrar com esse público e desenvolver algum trabalho. Voltar para a escola com a arte é encantador. Sempre estou pelas escolas com o Estágio Supervisionado. A experiência com a arte não se assemelha a essa experiência de estágio. Ir à escola como artista é uma experiência encantadora. A arte me salva da aridez, da rudeza da vida. Ela dá um toque de leveza aos desafios diários. 

8) Quais são as próximas exposições de Val Margarida? 
O trabalho e a família são a minha prioridade. Tenho me dedicado muito ao grande amor da minha vida. A luta contra a esclerose múltipla não é fácil. A pintura tem ficado em terceiro, quarto plano. Não consigo produzir em um ritmo mais acelerado para organizar, agora, uma exposição individual. Ainda estou expondo no Festival Internacional de Arte Naif de Guarabira. Nesse segundo semestre, estou organizando uma exposição coletiva, com alguns artistas paraibanos, no Museu de Arte Popular. Sempre em um ritmo muito meu. Não me cobro produção. Pinto para continuar vivendo.

9) Fizemos no dia 18 de julho de 2017 uma reportagem sobre o Ateliê Margarida. Em que pé andam as “margaridas”? 
Elas continuam pintando e produzindo, só que em um ritmo mais lento e me dando todo apoio. O grupo é formado por cinco irmãs. Minhas irmãs são o meu chão, o meu alicerce, os meus amores. Estão sempre comigo nessa caminhada. Eu sei que posso contar com cada uma delas em todas as circunstâncias.

10) Val, gostamos muito de você. Seu humor é fantástico. Diante de tantas adversidades você está sempre sorrindo, com a porta da sua casa/ateliê aberta. Queremos agradecer pela participação no blog e fazer uma última pergunta: a arte salva mesmo as pessoas? 
Estou muito agradecida a você por tanto carinho. Eu acredito que a arte salva todas as pessoas. A arte nos salva do tédio, da tristeza, da melancolia, da vida. Viver dói. Viver é desumano, é cruel. A arte me salva todos os dias. Ela me acalma, me acolhe, me sossega nos momentos mais difíceis. E não estou falando só da pintura, não. Falo de todas as artes. A música e a dança me encantam. 
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Vanuza Vieira é formada em Letras – Português, pela Universidade Estadual da Paraíba, onde também trabalha. É mãe, filha, amiga e pandeirista. Recentemente adentrou de vez no mundo das artes com participações em eventos musicais, tocando seu pandeiro, do forró ao samba passando pelo chorinho. Num mundo de músicas pouco sonoras, resgatar a boa e velha música popular brasileira é um alívio para ouvidos exigentes como os nossos. Espero que gostem. (Concedida em maio de 2018, para Carol Cavalcanti)

1) Oi Vanuza, você se importa em dizer sua idade? 
49 anos

2) Quando foi que você começou a tocar pandeiro e por que você o carrega dentro da bolsa, até mesmo quando não tem nenhuma apresentação marcada? Parece uma mãe cuidando de seu filho...
(risos) Comecei quando tinha 17 anos. Era muito engraçado, eu tocava com o pandeiro ao contrário e por debaixo da mesa. Era (sou) muito tímida. Até porque não sabia tocar. Mas, ele já tocava meu coração. Carrego sempre comigo como se fosse um utensílio indispensável, a exemplo de um batom. Nunca falta um batom na bolsa de uma mulher. Não é mesmo? Eu nunca sei o que dia me reserva. Há sempre um pessoa no meu caminho pedindo pra eu cantar e tocar uma música, em qualquer momento..  É aquele velho pedido "dá uma palhinha...". 

3) Nos últimos anos você vem se desinibindo, se apresentando em público, para um público maior. Como tem sido este aprendizado? O que você sente quando pisa em um palco, ou senta num banquinho para se apresentar para uma plateia? Você lembra quando foi a primeira vez que se apresentou para um grande público? 
Bem, sabemos que as coisas não nascem prontas. A gente vai construindo aos poucos, degrau por degrau. Comigo não poderia ter sido diferente nesse processo de aprendizagem. A parte mais importante nesse aprendizado foram meus amigos de fundo de quintal; dos encontros ao redor de uma churrasqueira, dos meus familiares. Eles achavam bom e bonito, e daí fui pegando o gosto, acreditando nos elogios que me faziam. No incentivo que me davam.

O que todo artista sente. Uma forma de se doar na certeza de que esteja fazendo o bem, através da música, ou de outro tipo de arte. Nada de estrelato e sim, uma missão de fazer com que as pessoas que me ouvem tenham um pouco de deleite, nesse mundo tão difícil de viver.

Sim. Como poderia me esquecer? A gente nunca esquece a primeira vez. Foi há dois anos, a convite da Grande Artista Cantora Adília Uchôa, em seu Show "Bazar de Ilusões", no Teatro Paulo Pontes. Foi um experiência incrível. Minha primeira vez...

4) Percebemos que uma parte de seu público tem uma idade um pouco mais avançada, fruto inclusive dos gêneros musicais prediletos que você gosta. Como é esta relação “artista e público”? Você lida bem com a fama?
Sobre a questão das músicas mais seletas para um público mais "experiente", digamos assim, é fruto de influências. Na década de 80 com os amigos universitários,  já escutava Bossa Nova, MPB, etc. E por influência do meu pai escutava os Grandes do Samba/intérprete/compositores - Jamelão, Nelson Gonçalves, Paulino da Viola , Cartola, Pixinguinha, dentre outros Gigantes da Música.

5) Curiosidade. O pandeiro acompanha todo tipo de ritmo musical, tipo rock ou funk? Tecnicamente, existem diferentes “batidas” (se é este o nome que se dá)? Conta prá gente, tecnicamente falando, quais são as “batidas” básicas, o que uma pessoa precisa saber par começar a tocar um instrumento de percussão como o pandeiro?
Gostei da pergunta. Incrível como o pandeiro se adapta a quase todos os instrumentos musicais.  Ele bem executado pode ser inserido no Rock, funk, tango, forró, com técnicas diferentes para cada um, claro. Sabendo operá-lo, tudo se harmoniza. Primeiro, a "batida" tem que ser sentida no coração, aliás, o próprio pandeiro já dá esse empurrãozinho (risos). O resto é dedicação e amor, tanto ao instrumento como à música.

6) Você anda soltando a voz também em suas apresentações. E ai, como tem sido mais esta experiência?
Pois é, com essa eu não contava. Mas, uma "coisa" foi puxando a outra. O pandeiro pedia uma voz. Pedia um acompanhamento. Ele tinha que "casar" com alguma "coisa".  De novo os amigos me incentivaram dizendo que daria certo. Acreditei de novo e fui....

7) Fala um pouquinho sobre sua família e se eles te apoiam ou não como artista.
No começo sempre há uma certa resistência. Achava  que eu ia virar boêmia, daquelas de virar noites e chegar ao amanhecer com os sapatos numa mão e na outra o Pandeiro. Eu sou boêmia! Hoje está tudo mais tranquilo. Eles vão me prestigiar.

8) Você andou sendo sondada para participar de grupos musicais. Está participando de algum? Ficamos sabendo que você foi convidada para integrar o grupo As Flores do Sertão. Um grupo musical composto apenas de mulheres. O que você pode nos falar sobre isso?
Sim. No momento com o Grupo Palco do Choro. As apresentações sempre acontecem nas últimas sextas-feiras de cada mês, com convidadas diferenciadas. Cada mês é uma cantora diferente e estou entre elas.

Genial! Sim, tenho convite. Mas, ainda não aceitei, pois o gênero musical é forró. Sou mais do ritmo cadenciado. Mas, nada de que um bom ensaio, prá me levar também...

9) Tem um lado poeta em você que também conhecemos. Poesia e música combinam, claro. Qual a importância da poesia para um músico? Como a poesia influencia a Vanuza do Pandeiro? Andam te chamando assim por ai.
Eu comecei a traçar alguns versos quando eu tinha, acredito, uns 15 anos de idade. Era uma forma de expor o que sentia, já que não tinha e nem tenho o hábito de falar do meu Eu. Sentia que quando escrevia algo, alguma coisa me impulsionava para a música na completude de quem quer se encontrar, ser transportado para for de si e do mundo sensível. Porque na música eu não falava de mim, falava o que os outros sentiam, escreviam. Embora eu me visse dentro delas, algumas vezes, mas não tinha minha assinatura.

10) Queremos agradecer a concessão da entrevista, depois de anos da nossa última conversa. Fique à vontade para falar o que quiser neste espaço e aproveite e nos diga, quando poderemos ver novas apresentações suas? 
Agradecer esse espaço único, onde podemos falar um pouco do que é ser artista dentro de uma sociedade capitalista. Onde a arte é "marginalizada" principalmente no tocante aos artista da terra. 
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Hugo César (ou Hugão para os íntimos) é um rapaz jovem, sensível, das letras. Escreve bem como ninguém, tem a sensibilidade à flor da pele. Típico dos apaixonados pela vida e pelas palavras que descrevem nosso cotidiano, nossos amores, relações íntimas, ausências e dores. Tem gente que nasce com esse dom. Vamos ver o que nosso querido Hugão tem a nos contar. Espero que gostem! (Agosto de 2016, para Carol Cavalcanti)


1) Fui dar uma olhada no seu perfil em uma rede social e vi que é de Campina Grande e tem medo de errar na seleção da música, pois acredita que ela deva representar o momento de forma precisa. Não sei se é bem essa a palavra, “precisa”, mas essa seria ou é uma boa referência do Hugo César artista?
 R: É difícil responder quem se é, já que é mais fácil julgar - os outros. Mas, valho-me de Rubem Alves, para tentar me definir: ''Quero ouvir música - aquelas que fazem parte da minha alma. Pois a alma, no seu lugar mais fundo, está cheia de música.''

2) Desde quando você escreve? E por que resolveu divulgar seus escritos?
R: Desde os 17 anos, mais ou menos. E escrever passou a ser uma necessidade. A divulgação talvez seja explicada pelo fato de querermos compartilhar as coisas que fazemos com carinho. Quando se gosta de um ofício, acaba sendo natural a exposição, da mesma forma que um professor se abre na sala de aula; um arquiteto desenha um projeto, etc.

3) Agora você é letrista, compositor. Anda compondo música, Hugão?
R: Sim, a música é o grande encanto. E dentro dela cabe tudo, inclusive a palavra. 

4) Como foi ser premiado com uma letra no LAMPEJO -  Festival de Música Popular Brasileira de Campina Grande (2016), sendo cantado por Adília Uchôa? Como ficaram suas emoções?
R: Pra mim, foi uma honra. A iniciativa do Festival é louvável. É uma forma muito bonita de abrirmos nossas gavetas de guardados. A organização do evento está de parabéns pelo cuidado com que realizou esse projeto. Em relação à Adília, é uma honra à parte. Sempre estive na posição de plateia, diante dela. Agora, estarmos junto, no mesmo barco, é um prazer. Ela recepcionou muito bem nossa canção (que é parceria com Pedro Miguel). E a gente entrega uma música como quem entrega o coração.

5) Sei que você é louco por música, daqueles que sabe letra, nome, data...detalhes que nem todos prestam atenção. A música te inspira na poesia de que forma?
R: Na verdade, uma coisa completa a outra. Inclusive, por muitas vezes, não consigo dissociar a música da poesia e vice-versa. Tem música na poesia, como tem poesia na música, no arrepio que ela nos causa.

6) Você se apresentou no ‘Quartas Acústicas’ no primeiro semestre de 2016, na Sala Paulo Pontes em Campina Grande. Como se deu o processo de formação do grupo e como foi à experiência de ter tocado para uma plateia? Em conversa que tivemos no meio da rua o fato de não estar lotado não te incomodou em nada. Conta como foi essa experiência?
R: Pois é. Eu e dois amigos (Caio César e Savanna Aires) sempre nos reunimos pra ouvir música e cantar – no caso deles que são cantores; a partir daí, começamos a escrever algumas coisas juntos e resolvemos tirá-las das nossas reuniões e apresentá-las ao público. O ‘Quartas Acústicas’ foi o meio que casou com nossa ideia.
Batizamos o show de Cá Entre Nós, que foi uma experiência interessante, sobretudo pra mim que não sou acostumado com palco. Mas, achamos importante a exposição da figura do compositor, que geralmente, fica na coxia.
Realmente, o público foi muito pequeno, mas atencioso. Talvez, aos poucos, a música autoral vá ganhando o seu espaço.

7) Pretende seguir na carreira de músico ou foi só uma experiência? Soube que você leva jeito.
R: Não me considero músico, no sentido formal da palavra. Gosto muito de música, de me atrever a fazer música, mas não sou um executor. Me sinto mais à vontade na criação, na composição. E aí entra a figura do parceiro e do intérprete, como Adília. Vamos nos somando. 

8) Desde quando você alimenta o blog Caderno Guardado? Como é essa experiência para você de expor seus sentimentos para quem quiser ler?
R: Tem alguns anos. Foi a primeira forma que encontrei para externar os meus versos. Expor é dar a cara à tapa. E, da mesma forma que me deparo e me reconheço em outras faces (em outros poemas),deixo aí a minha para quem quiser conhecer. 

9) Todo mundo tem um processo de criação. Momentos mais fortes que determinam à escrita. Tenho achado seus poemas mais leves ultimamente. Mas, já foram bem intensos tempos atrás. Como você compõe? Tem hora, local, bebida certa, isolamento total? Como chegam as palavras para você?
R: Não tenho um processo definido, uma metodologia. A inspiração é uma fagulha, um suspiro. Nos deparamos com ela na rua, no ônibus, numa fila de uma casa lotérica...O restante é trabalho, lapidação, transpiração. Grande parte dos poemas, das letras, estão aí soltos na calçada. E aí uma hora dessas a gente tropeça e fica com aquilo na cabeça ‘’transcorrendo, transformando(...)’’

10) O que podemos esperar do Hugo César daqui para frente no cenário cultural campinense e, por que não, também virtual?
R: Não tenho uma resposta precisa. Mas, tento seguir com o lápis na mão, ou a mão no teclado, né? Rsrs
Obrigado pelo carinho!


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Para começar 2016 escolhemos entrevistar Sandra Belê. Simples assim? Não! Claro que não! Sandra teve um ano de 2015 fantástico, viajou o Brasil com sua música e a cultura da Paraíba. Artista nascida na discreta e antes desconhecida cidade de Zabelê, no Cariri Paraibano, a energia da cantora, sua voz, seu frenesi no palco envolve a todos que tem o prazer de vê-la cantando, dançando, girando, interpretando. Eu já tive essa oportunidade algumas vezes e posso garantir que é inesquecível. Espero que gostem da nossa conversa. (Concedida em janeiro de 2016, para Carol Cavalcanti).

1) Já te chamaram de ‘Feiticeira do Cariri’ ! Conta essa história prá gente.

R: (risos). Esse termo surgiu numa matéria de um jornal impresso daqui. Foi novo! Na verdade eu fui chamada a algum tempo de “Patativa do Cariri” por um cabra bom chamado Benedito do Rojão, cantor, repentista e compositor morador de Campina Grande. Agora, o “feiticeira” eu ouvi recentemente quando tentavam me explicar os sentimentos que são emanados em quem me ouve cantar, pois sentem-se enfeitiçados pelo som emitido. Talvez seja por isso, né? (risos). Fico feliz em proporcionar bem estar aos que me ouvem. Um presente pra mim.

2) Procurando informações sobre você, não foi fácil encontrar coisas bobas como início de carreira,escola, faculdade, por exemplo. Então, quem é Sandra e quem é Sandra Belê? Conte-nos como foi sua estreia nos palcos? Começou a cantar com quantos anos? Fez alguma graduação?

R: Sou caririzeira da cidade de Zabelê, comecei a cantar quando tinha 18 anos de idade. Na ocasião estávamos no colégio realizando a simulação de uma eleição quando fui convidada pra cantar as músicas da campanha eleitoral. Nesse momento a cidade me descobriu cantora! A partir desta ocasião passei de Elisandra para Sandra Silva (e mais tarde Sandra Belê). Enquanto cantava e lidava com cultura (faço parte da Associação Cultural de Zabelê e do Reisado de Zabelê) cursava Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande. Hoje canto, toco instrumentos percussivos, faço pesquisas na tradição oral e, vez por outra me atrevo a designer gráfica.

3) A profissionalização se deu em que momento? Tem o dedinho de algum produtor famoso?

R: Não tenho um marco, mas acredito que quando descobri a música em mim, tudo que fiz foi pensado e almejado como trabalho profissional. Famoso? Você quer dizer famoso por estar na grande mídia, né? Tive pessoas e instituições maravilhosas ao meu lado. Pessoas e instituições que são conhecidas em todo Estado paraibano e grande parte do Nordeste como importantes fortalecedores e mantenedores da cultural tradicional, a exemplo da Associação Cultural de Zabelê, da Prefeitura Municipal de Zabelê e do Museu Fonográfico Luiz Gonzaga de Campina Grande. Romério Zeferino (Secretário de Cultura de Zabelê) desempenhou um dos papeis mais importante da minha formação enquanto artista paraibana que pensa às suas raízes. Com ele iniciei meu voo artístico para o mundo e aprendi a seguir nessa estrada complexa e cheia de grandes surpresas. Tive e tenho pessoas incríveis comigo. Sou uma pessoa de sorte!

4) Você deve ter tocado muito em barzinho, festivais menores e outros eventos menos divulgados. Qual a diferença ou as diferenças em se apresentar fora de seu Estado em eventos como os do SESC (a artista esteve em turnê pelo Estado de São Paulo em 2015) que nem sempre são enormes, grandiosos, mas que tem uma estrutura bacana e um público diferenciado?

R: Não fui muito a barzinhos, acho que talvez pelo fato de os repertórios tocados lá serem preferivelmente voltados para a MPB como um todo, enquanto eu sempre me detive na musica popular nordestina. Mas sim, cantei e canto em festivais e demais eventos pequenos, menos divulgados. Cantar fora do meu Estado é uma maravilha! Primeiro, pelo voo alçado que sempre foi desejo, segundo porque é sempre bom levar o que é do nosso chão para outros universos. Divulgar, distribuir, compartilhar o que considero bom e belo do meu torrão é prazeroso! Cantar através dos Sescs é muito bacana, pois a estrutura e o público oferecidos são excelentes. Ano passado fiz shows em aproximadamente 10 Sescs, incluindo interior e capital paulista, e sempre vi pessoas emocionadas, felizes, extasiadas com o nosso forró tradicional. Emoção pra dar e vender, viu! À produtora paulista Solo Cultural, através de Ge Zafani, o meu muito obrigada! Vamos fazer mais!

5) Você abrindo o show de Mariene de Castro em João Pessoa no ano de 2014, no Espaço Cultural, não deixou nada a dever a ninguém. Você poderia ter sido a atração principal sem sombra de dúvidas. Como foi essa noite?

R: Muito obrigada! É engraçado esse lance de ser ou não a atração principal, pois não vejo diferença em ser uma ou outra na hora do show, então não ligo muito pra isso! Agora, aceito de bom grado a ideia de ser a atração principal se isto me permitir ser mais respeitada pelos contratantes, ser mais respeitada nos bastidores, ser mais respeitada pela mídia, ser mais respeitada! Meu desejo profundo é que todos sejamos tratados como atrações principais, sempre! A noite que cantei antes de Mariene de Castro foi um marco na minha carreira, pois foi o último show do projeto Prisma (queridíssimo projeto) e o primeiro show que fiz já sendo moradora de João Pessoa! O público caloroso, surpreso e vibrante me fez crer que terminei da forma mais bonita que se tem de se terminar um ciclo, e comecei com o pé direito a relação que até hoje dura com minha querida capital.

5) Agora mais recentemente também em João Pessoa “Elas e a Sanfona” com Ellen Oléria e Khrystal. Que novidade interessante! Esse projeto vai ser apresentado em outras cidades? Como foi a receptividade do público com as parcerias?

R: Foi um momento mágico, enaltecedor, eterno!! Foi sonho realizado ter Ellen e Khrystal comigo! Duas grandes mulheres, artistas, guerreiras! Isso, queremos dar continuidade ao projeto, pois o público assinou embaixo e já solicita que ele seja mostrado ao mundo. Ficamos emocionadas com o que vimos, um público completamente aberto, solícito, generoso fez o show conosco! Eita, mundão cheio de belas surpresas! 

6) Quais as diferenças marcantes entre os seus CDs Nordeste Valente (2005), Se Incomode Não (2009) e Encarnado Azul (2011)? O que nessa evolução começou a atrair a atenção fora do eixo paraibano?

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R: O Nordeste Valente é o primeiro disco da minha carreira, então, queríamos colocar todas as belas canções que tínhamos ouvido até ali, portanto tivemos que fazer uma seleção. (risos). Essa seleção deu-se a partir de conversas com amigos e produtores, e pesquisas. Já o segundo, Se Incomode Não, nasceu da ideia de fazermos um disco mais popular, mais dançante, com canções mais contemporâneas. Desta vez, os amigos compositores foram os grandes parceiros! O Encarnadoazul foi o grande divisor de águas! Nele trabalhamos com a música de tradição oral (pastoril) com uma pitada de ousadia. O modelo tradicional presente na composição dos arranjos dos dois discos anteriores deu espaço para a contemporaneidade. Foi com o Encarnadoazul que começamos uma saída do eixo, que veio a ser concretizada com o EP Prisma. Amo todos estes trabalhos, que vale salientar, são um resumo fiel dos momentos históricos pelos quais passei em todo esse trilhar, que ainda está vivo e necessitando de sempre mais! 

7) Você já dividiu palco com muito nome de “renome”. Qual ou quais são aqueles que mais te marcaram e por quê?

R: Vejo como especiais todas as pessoas que toparam estar comigo nos momentos em que canto! Sempre me emociono, pois são conquistas. Pedirei licença não mencionar nomes, pois poderei pecar ao esquecer algum. Então quero deixar evidente os meus sinceros agradecimentos a todxs xs queridxs companheirxs que me fizeram feliz ao cantarem ou tocarem ao meu lado. Seja quando convido ou quando sou convidada. Acredito demais na força de quando estamos juntos! Compartilhar sempre!

8) Como foi apresentar ‘A Festa’ no Maior São João do Mundo, em Campina Grande? O dia 9 de junho foi chamado de o “Forró das Mulheres”, pois foi tomado por apresentações femininas, como foi essa experiência? Lembro-me que seu figurino estava divino!

R: O Show A Festa foi um presente pra mim! Foi surpreendente o quanto o público aprovou! Cantar no Maior São João do Mundo é sempre uma honra, pois muito querem participar e não conseguem. (O que é uma pena, pois são tantos dias, né?). Em relação ao tema “Forró das Mulheres”, senti muito por ele não ter sido bem explorado. Senti falta da organização da festa e da mídia falarem sobre isso. O momento, enquanto fortalecedor da figura feminina na arte de cantar forró, não teve repercussão alguma. Fato curioso já que somos tão poucas conquistando esse espaço, que por décadas vem sendo liderado por homens! Mas, lamúrias a parte (risos), cantar no Parque do Povo (embora em dia e horário nada atraentes), e ainda compartilhar a noite com mais duas mulheres artistas, cantoras guerreiras é de um fortalecimento incrível. Tomara que esse ano consigamos estar lá novamente! Bora botar fé!

9) Quais são os próximos voos de Sandra Belê? Tem já agenda para 2016? 

R: Além do retorno aos palcos de São Paulo, temos dois discos para serem terminados (ações que queremos realizar ainda neste primeiro semestre), a preparação do novo show de São João (que já está sendo montado), a continuação dos shows ‘Voz e Sanfona’ (apenas comigo e com Lucas Carvalho) e do ‘Elas e a Sanfona’ (comigo, Ellen Oléria, Khrystal e Lucas Carvalho), e a escolha de um novo repertório para compor um disco para o próximo ano. Ufa! 

10) Sandra Belê, desde já queria te agradecer pela generosidade e deixar o espaço sempre aberto para sua agenda. Bom, ‘Namorinho de Sofá’ é um blog “sem fins lucrativos”. O interesse é divulgar a arte, os artistas e as atrações culturais da região e do Estado da Paraíba. Você como – ainda – uma artista independente como nós acredita que iniciativas menores ajudam o desenvolvimento da cultura?

R: Muito obrigada vocês pelo convite e abertura de portas!
Com certeza! Precisamos de espaços para divulgar nossa arte, nossos pensamentos, nossas ações! Não podemos esperar pelas grandes empresas, que geralmente são corporativistas, excludentes! Temos que fazer significativas mudanças ao nosso entorno, e são as pequenas e sérias iniciativas as grandes protagonistas desse acontecer! Que sempre tenhamos mais iniciativas com “Namorinho de Sofá”. Vida longa a vocês!

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Tenebra e Elke Maravilha. 


Escolhemos fazer essa entrevista com Emerson Tenebra, tirando o foco de cantores e poetas, porque entendemos que ele é tudo isso e mais um pouco. Radicado na cidade de Campina Grande há muito tempo se ele muda de endereço seu público vai junto. E a cada ano aumenta, se diversifica. Tenebra é cultura, é alternativo, é cidadão que defende seus direitos, mas também o direito da coletividade (e não é só por cultura não que ele se posiciona!). Esperamos que gostem dessa entrevista de primeira! No mês do cachorro louco, nada melhor que uma entrevista “tenebrosa”, não é mesmo!
Todas as fotos foram cedidas por Tenebra. (Concedida em Agosto de 2015, para Carol Cavalcanti)

1) Quem é Emerson Tenebra (pessoa física) e quem é Tenebra (pessoa jurídica)? 
R: Pergunta difícil, (rsrsrsr) mas vamos lá, sou uma pessoa de paz e amor, casado com Ariane Lima, pai de duas filhas, Luana Lins e Dandara Lins, avô de João Pedro, sou de hábitos simples, apaixonado por música, caseiro, e cultivador de grandes amizades, adorador da política, odiando sempre a politicagem e principalmente o politiqueiro, gente que visa em uma pessoa publica a oportunidade de elegê-la para depois ficar puxando o saco e se beneficiando da situação, desde muito cedo fui cantado a me candidatar a cargos públicos, na década de 90, em Recife, por conta das inúmeras lutas estudantis e movimentos políticos, fui cotado por dois partidos para me candidatar e corri longe, aqui a mesma coisa, ontem mesmo vieram aqui com essa proposta. Mas não, muito obrigado. Prefiro ficar de rabo solto, sem conchavos. Certa vez passou por minha cabeça partir para me candidatar, graças a um amigo desisti, ele veio e me perguntou: “Tenebra, você conseguiria apertar a mão de uma pessoa que você não gosta por conta de um voto?”. Prontamente respondi não, depois perguntou: “Se você visse algo errado na câmara você ficaria calado?”. E prontamente respondi: Não, dai ele falou: “Meu amigo, desista, você não tem perfil de canalha para entrar em canalhices políticas”. Dai desisti de pronto acordo. Mas não deixo de expressar meus ideais e posicionamentos políticos, sempre deixando claro que quem está neste posicionamento sou eu pessoa física e não o meu negócio, tanto que nele não costumo conversar sobre política e muito menos permito campanhas no local.
O Tenebra (bar) é um local voltado para a cultura e a diversão, somos um espaço tribal, onde todas as tribos se encontram e se respeitam, sejam eles gays, heteros, bi, tri, pan, maluco beleza, perdido no espaço, cocota, brotinho, ‘rebileuras’, dondocas do açude velho e etc. Aqui entendemos que toda manifestação é cultural, seja a que eu aprecio ou a que eu não goste, mas fica a dica, aqui estou trabalhando e me dou ao luxo de ouvir o que gosto, aqui não toca sertanejo universitário (espero até que esse tal de sertanejo universitário se forme logo para ver se vira um som bacana), axé, funk pancadão de letras que dão vergonha até de passar ao lado de quem ouve, entre outras atrocidades sonoras... Mas aqui você vai ouvir de tudo, de música clássica ao heavy metal, de bregas ao mais requintado jazz, do blues a músicas étnicas de países africanos, músicas do mundo todo, do polo norte ao polo sul. No antigo Bar do Tenebra tínhamos uma placa que dizia: Proibido tocar lixo, vez por outra chegava um desavisado e pedia para tocar coisas do tipo Calcinha Preta e eu perguntava se a pessoa sabia quantos bares existiam na cidade, dai continuava: “Tem tantos bares na cidade que toca esse tipo de musica, já que você gosta deste estilo, por que não vai para outro bar? Aqui não”.
Hoje o novo Tenebra vem repaginado com um ambiente bem decorado, conceitual, com uma cozinha assinada por uma cheff formada em Recife, Luana Lins, que é minha filha e modéstia a parte herdou do pai o gosto pela culinária (rsrsrsrs) e que promete trazer muitos sabores novos para aguçar o sensorial degustativo do público que busca o novo, é lógico que darei meus ‘pitacos’ e toques, mas quem assina é ela. Quem criou junto comigo a decoração do novo espaço foram Flora Santos e Raissa Cariri (Chá Verde) e que vai estar em construção constante, trazendo sempre novos adereços a casa.

2) Você está há muitos anos morando em Campina Grande. Lembramo-nos de você empurrando um carrinho que oferecia uma bebida misteriosa....Conta aí como foi esse começo e o percurso até estabelecer seu nome na cidade?
R: Bem sou de Pernambuco, da cidade do Recife, desembarquei a primeira vez em Campina Grande ainda adolescente com 17 anos, cheguei à cidade no dia 13 de janeiro de 1990, às 10:46h, ao chegar fiquei impressionado com a cidade e sua cultura, logo de cara quis morar aqui, mas tudo na época era muito complicado para um jovem sonhador, dai pra frente foram muitas idas e vindas, sempre tentando me estabelecer na cidade, vivenciando sua cultura, seu clima, seus conceitos e preconceitos, aqui fiz de tudo um pouco, trabalhei estampando camisas, fazendo relógio e camisas artesanais, produzindo teatro e festas e dai por diante, sem muitos êxitos, até que em 2004, após uma campanha política montei um bar em Maracaípe, litoral sul de Pernambuco e lá criei uma cachaça misturada com ervas e raízes, as chamadas ‘pau dentro’ ou ‘misturada’, só que diferente de muitos que fazem essas alquimias comecei a marcar e degustar até dar o ponto do sabor que me agradava, não tinha intenção de comercializar, era apenas hobby, mas tudo era apenas uma brincadeira que foi crescendo e me absorvendo, até o dia que um amigo me falou que eu tinha que partir para produzir a cachaça e que ela seria a minha grande financiadora, só que tinha um detalhe: Pernambuco não tinha o hábito cultural de beber cachaça e lembrei de Campina, do meu sonho de morar aqui e dai resolvi subir a serra, na bagagem muitos litros da cachaça e a certeza de que ia dar certo, no início tudo foi muito difícil, você conseguir emplacar o novo sempre é difícil, mas em 2006, quando consegui um quiosque dentro do São João tudo mudou, começamos a atrair um público que buscava o novo, que queria um diferencial dentro de uma festa de massa e começamos a atrair um grande número de pessoas de várias idades, já em 2007 continuamos a festa e começamos a atrair mais e mais pessoas, você descia a Sebastião Donato e quando chegava próximo ao quiosque ou você desviava para a calçada do outro lado ou pegava a ruela por trás ou passava 10 minutos para atravessar a multidão e isso claro chamou a atenção de alguns membros da prefeitura, tentaram impedir que tocasse músicas no quiosque, o que de pronto não acatei, até por que no contrato não tinha uma cláusula que impedisse a música e seguimos, no último dia junto com Alcides Santos e outros músicos da cidade, montamos um batuque para encerrar a festa e dai começaram mais  problemas, encerramos este ano e tudo passou até o ano seguinte, ao ir assinar  contrato para 2008, lendo o contrato descobri que tinha criado um cláusula que impedia a utilização de equipamentos sonoros em barracas quiosques e similares, quando li ri muito e a pessoa perguntou qual era a graça e respondi: “É a primeira vez que sou homenageado com uma cláusula contratual kkkkkkkkkkk”. Começou a festa e logo na primeira noite, antes mesmo da festa começar o quiosque da gente foi notificado, só que eles não sabiam é que já tínhamos uma carta na manga... Ao ler o contrato entrei em contato com Alcides e combinamos de todas as noites de sexta e sábado a partir da 00h começar o batuque que se intitulou: ‘Batuque Misterioso, Batuque Tenebroso’ e demos início ao que foi uma grande manifestação cultural nunca vista antes dentro do Parque do Povo, o ano era de eleição e na segunda semana chegaram os fiscais para autuar o quiosque por conta do som que estava sendo feito, dai questionei: “Por que estou sendo notificado se nem som no quiosque tem?”. Aí alegaram que era por conta do Batuque... Falei: Meu amigo, eles estão na rua, não dentro do quiosque e não tem nada ligado no quiosque para o som deles, e o fiscal falou: “Então vamos chamar a policia”, e eu chamei e abrindo a constituição mostrei a ele: “Diz aqui que todo governo municipal, estadual e federal tem por obrigação apoiar e incentivar todas as manifestações culturais populares, e que se eles chamassem a policia chamaríamos a imprensa e que o prefeito não iria gostar desta propaganda em pleno ano em que ele iria disputar a reeleição, dai todos recuaram e seguimos a festa, na quinta- feira que antecedia o encerramento recebo novamente a visita dos fiscais a mando de um secretário da época para aplicar um multa de R$ 269,00 por conta do batuque, eles já sabiam que nós estávamos por trás de tudo isso e como você não pode ser multado duas vezes pelo mesmo problema, coloquei duas caixas de som e um microfone, e ai danou-se, já dizia Raul Seixas: O microfone é uma erma perigosíssima. Essas últimas apresentações do ano foram envoltas de muitas críticas e denúncias, abrimos os toques informando a todos os presentes que tinham nos impetrado uma multa a mando do secretário e que era o mesmo que dizia que iria lutar pela cultura e pelo movimento estudantil, e soltei o ‘Monologo ao Pé de Ouvido de Chico Science’, que diz: “Modernizar o passado é uma evolução musical, cadê as notas que estavam aqui? Não preciso delas, baixa deixar tudo soando bem aos ouvidos, o medo da origem ao mal, o homem coletivo sente a necessidade de mudar, o orgulho, a arrogância e a glória enchem a imaginação de domínio, são demônios os que destroem o poder bravio da humanidade, viva a Zapata, viva a Sandino, viva a Zumbi, Antônio Conselheiro, todos os Panteras Negras, Lampião sua imagem e semelhança, eu tenho certeza que assim como nos eles também cantaram um dia”, isso sendo recitado por mim e apontando para a cópia da multa e para todos os presentes, todos os homens coletivos clamando a todos que não se deixassem calar. Após o encerramento vieram a minha porta querendo negociar a extinção da multa em troca do meu apoio ao secretário e a reeleição do prefeito, isso me deixou indignado e lógico que não aceitei e acreditei que iria perder o quiosque com a promessa de que no ano seguinte estaria com um bar montado no Parque do Povo e que ninguém iria calar a nossa voz. E ai surgiu o Bar do Tenebra.

3) Aqueles anos todos em frente ao Parque do Povo consolidaram seu público, mas também surgiram algumas desavenças. Hoje, mais vivido, Tenebra diria o que sobre esses anos?
R: Foram anos de luta e aprendizado, tenho muito orgulho de tudo isso que foi feito, porque foi pelo coletivo, depois de 2008 muita coisa mudou, muita gente boa surgiu, como por exemplo, o Maracagrande e todos ganharam espaço e respeito dentro da festa dita popular. Se faria tudo de novo? Sim, faria. A população não pode se calar jamais, os políticos são meros funcionários públicos eleitos pelo povo para servir ao povo, eu fico com vergonha alheia ao ver uma pessoa se rebaixar a um político ou por idolatrá-lo como um homem de uma superioridade que não existem, eles estão nas mãos do povo, não o contrário, é o povo que dá a eles o direito de estar assumindo um cargo, o concurso público deste elemento é o voto do povo que vota nele, as pessoas devem sempre lembrar e cobrar os seus eleitos, eles tem a obrigação de serem decentes e honestos e de servir ao interesse público e coletivo. Boa parte da consciência de cidadania foi tirada do povo pelo regime militar, tiraram da sala de aula as matérias de filosofia e ciências sociais e colocaram em seu lugar OSPB e moral e cívica, justamente para manipular o povo e o fazer acreditar que deve ser submisso aos políticos. A imprensa, junto com os maus políticos manipula a sociedade... Essa tem que abrir os olhos e ficar sempre atenta. Sabe aquele secretário que queria calar o coletivo? Ele perdeu a eleição por 200 votos, apoiamos um candidato na época que não foi eleito, mas transferimos para ele 600 votos que iriam para o outro, neste ano fomos vitoriosos. 

4) E em época de São João o que mais se notava era o sucesso do palco alternativo montado em um pedaço de calçada no seu bar, em frente ao Parque do Povo. Coisa louca! Vivia lotado e do pessoal de fora da cidade o que se ouvia mais comentar era sobre suas atrações. Como surgiu esse “enfrentamento cultural” junto à Prefeitura de Campina Grande? Pode ficar a vontade para falar porque a muita gente se indignou quando o PP montou aquela estrutura de camarotes que todos pensavam que ia atrapalhar o funcionamento do seu palco, mas inclusive fez o movimento aumentar. E hoje, em 2015, já te colocaram no meio da festa. Uma conquista não?!  
R: E mais uma vez volta o coletivo. Como falei acima isso tudo foi consequência justamente desse embate no São João de 2008, em 2009 já com o Bar do Tenebra começamos a montar o movimento, começamos a criar ali um atrativo para mostrar que o povo quer sim ver suas origens juninas que em nada tem haver com o palco principal, a cultura de calçada, o forró de pé de serra, o coco de roda que é paraibano, o maracatu que é nordestino e não só pernambucano. De muitas situações uma nos incentivou muito a levar essa batalha pra frente, certa noite ainda no quiosque observei duas senhoras admirando o movimento do batuque, elas pararam e ficaram ali horas vendo e dançando com os jovens que estavam no local, no intervalo vieram até a mim e comentaram que aquilo trouxe a elas uma saudade do São João que elas tinham na infância no sitio onde moravam. Aquilo me emocionou muito e me ensinou muito, sempre que relembro esse episódio me emociono muito. No ano de 2011 conseguimos com o patrocinador oficial da festa uma verba e conseguimos colocar várias atrações da cidade na calçada do que batizamos de Palco Multicultural do Tenebra, era uma loucura ver em um espaço tão pequeno a quantidade de pessoas dentro, em 2012 que foi o último ano deste movimento conseguimos trazer outras atrações de fora, como Dusouto e Escurinho, neste ano a prefeitura não quis liberar a montagem do palco mais fomos para as redes sociais e colocamos a programação alegando que talvez tivéssemos que cancelar por conta da prefeitura, se tornou um viral com mais de 2 mil compartilhamentos, chegou ao Planalto nos ouvidos do senador irmão do prefeito que mandou ele liberar a tal calçada, já que o não acontecimento do evento traria mais problemas para a prefeitura e termos de críticas em um ano de campanha do que liberar. Foi engraçado que tentávamos ligar para o secretário e ele binava as ligações até começar os compartilhamentos, depois de 48 horas o meu telefone toca, era o tal secretário, olhei para Alcides e disse: “Agora quem vai rebolar pra falar com a gente é ele”. Binei as ligações dele por 3 horas e atendi, ele foi à nossa porta perguntar o que estávamos precisando para colocar o palco e em que eles poderiam ajudar. O povo não sabe a força que tem, mas descobre. Já este ano, segundo fontes da própria prefeitura fomos colocados num local que no ano passado estava morto, para tentar levar movimento para aquele local e conseguimos, segundo dados da prefeitura, fomos o segundo maior público do evento todo, perdendo apenas para o palco principal. Ano que vem vamos pleitear a volta do Palco Multicultural do Tenebra e esse pode ser que não ocorra no Parque do Povo, muitos vão para lá apenas por que estamos lá. Então, quem sabe um espaço alternativo, para um público alternativo. O futuro é incerto mais é bem generoso. E nada disso seria possível sem o coletivo.  

5) Sabemos que você é muito ativo politicamente, seja na esfera municipal, estadual ou federal. A boca grande (que sabemos que você tem), já lhe causou coisas boas e ruins, não é. Nessa sua caminhada que envolve cultura alternativa, divertimento mais acessível, o que mais lhe marcou nesses enfrentamentos?





R: Olha o que mais me marca é a falta de discernimento das pessoas e as suas paixões por canalhas eleitos que apenas usurpam da sociedade, é ler um comentário de uma pessoa que idolatra um candidato do estado mandando você ir embora da cidade por não ser daqui, isso é vergonhoso, tem gente que tatua a foto de político nas costas e acha que isso é ser politizado. Defendo, critico e cobro dos que elejo, não estou pedindo favor a nenhum deles, é obrigação deles servir ao povo. Estou ligado à política desde os dez anos de idade, sempre amei política enquanto alguns tolos dizem odiá-la, esse tolo não entende que a política é o dia a dia, o ato político não se resume a eleição, ir a uma feira e pedir um desconto é um ato político. Mas é como falei, o regime militar causou muito estrago cultural no país e os maus políticos querem um povo burro, um povo burro vota nos piores políticos em troca de favores, em troca de um milheiro de tijolos. Vez por outra me deparo com um xenofóbico. É triste e vergonhoso ver uma coisa dessas.
Mas deixo aqui um recado, quando me mudei pra cá definitivamente a primeira coisa que fiz foi transferir o meu titulo de eleitor pra cá, vim para ficar, vim para lutar pela cultura desta cidade e deste estado e a constituição me dá este direito e eu o exerço, não adianta você querer que eu vá embora, é mais fácil você sair da cidade do que eu.

6) Em 2012 você fez um show beneficente para arrecadar dinheiro para a banda ‘Meia de U.S.’ que havia sido roubada e tinha perdido seus instrumentos. Como é esse lado socialmente comprometido do seu trabalho?
R: Olha, vejo muita gente que quer levar a cultura a frente e os que deveriam fazer pela cultura são omissos, as grandes empresas têm uma cabeça provinciana, eles acham que apoiar e patrocinar um evento é mera esmola, não enxergam que isso eleva a marca deles perante essa sociedade que devora cultura e que forma opinião, quando os meninos da ‘Meia de US’ tiveram seus instrumentos furtados a primeira coisa que fiz foi doar uma guitarra para a banda, depois através de Murilo Galdino que se sensibilizou com o ocorrido conseguimos um baixo e os meninos conseguiram ensaiar para um show que estava marcado para a mesma semana. Mas sempre estou disposto a incentivar a cultura, seja com doações para coquetéis de lançamentos, seja pra abrir espaço para exposições e assim por diante, incentivar a cultura gera sempre bons frutos, talvez seja por isso o nosso sucesso, pena que tem muito empresário de cabeça pequena.

7) Você passou por uma mudança radical de espaço ao sair das proximidades do PP e ir para um bairro residencial, mas também cheio de universitários. Por que essa mudança foi necessária? Deu para colher algo de bom dessa experiência? Algumas pessoas que ali frequentaram e que se consideram órfãos do Bar do Brito diziam que tinham achado seu novo espaço. O que você acha de tudo isso?
R: Vamos por parte, como Jack o Estripador... Dá mudança: o proprietário pediu o ponto, alegando que iria construir um prédio, dai surgiu essa casa no Conjunto dos Professores, lá era o ideal para poder selecionar melhor os nossos clientes, já que mantínhamos o portão fechado, porém não deu certo por que as pessoas acharam longe e perigoso por ser próximo a comunidade do Pedregal... Engraçado, por ser de Recife, longe pra mim é sair de Piedade e ir para Pau Amarelo (rsrsrsrs), não do Centro para Bodocongó, quanto ao perigo é uma grande contradição, apesar de ter histórico violento no Pedregal, durante um ano não vi nem um vulto que me assombrasse, durante o mesmo período ocorreram vários assaltos com violência nas proximidades de alguns bares da cidade e até mesmo dentro, então me pergunto: “Onde de fato é perigoso?”. Quanto à referência que fizeram em relação ao Bar do Brito foi justamente por essa tranquilidade de ter as portas fechadas e só abrir para conhecidos, e o mais engraçado é que eu não conheci o Bar do Brito. Acredito que no novo espaço vão também se sentir à vontade.


Baixinho do Pandeiro e Pablo (Varal de Cabaré)

8) O som que toca no Bar do Tenebra sempre foi alternativo e de ótima qualidade. Lá ouvimos de Chico Buarque a Falcão, Pink Floyd a Bob Marley, assim como cantores e bandas menores como Varal de Cabaré, Dona Treta e Gitana Pimentel. É de 8 a 80! Você acredita que tem que tocar o que o povo quer ouvir ou o deleite é seu mesmo e o público vai chegando?
R: É aquela coisa, criar identidade, sempre costumo dizer que não criei um bar para clientes, criei um bar para me encontrar com os meus amigos, e trabalhar ouvindo o que não gosta é terrível, as pessoas que gostam do Tenebra sabem o que vão encontrar lá, os que têm o gosto parecido com os meus vão se chegar, tem proprietário de bar que vira prostituta de clientes, acha que tem que agradar ao máximo para cativar o cliente e nisso eu discordo, você deve atrair o seu cliente pela identidade do seu espaço. Lembra muito o slogan do bar de um amigo de Recife: “Lesbian Bar, o cliente em último lugar”. Lá vivi lotado.

Guta Stresser (atriz) e André Paixão (músico)
9) Queremos saber se você pretende revitalizar o centro de Campina Grande já que mudou-se para a Afonso Campos. Por que da escolha?
R: Foi o acaso, soube que o ponto estava para alugar e fui conferir, lá vi as possibilidades de criar um grande espaço para a cultura, estamos na Afonso Campos que se confunde com a Floriano Peixoto, a diferença é a praça que fica entre as duas. Quanto à revitalização, o que pretendemos é adotar a praça em frente, plantar nela algumas plantas, dar uma pintada e tentar proteger da depredação, vai ser bom para nós e para a cidade.


10) Visitamos o bar no dia seguinte à inauguração e você comentou, reclamou mesmo dos estragos feitos por alguns frequentadores do local. Foram cerca de 300 pessoas, segundo você, que circularam pela casa, e com certeza por essa ninguém esperava. Como nos confessou “seus cachorros são mais educados” que esse pessoal. A decoração tá fantásticas, os ambientes ainda em fase de ‘ajeita aqui e ali’ proporcionam circulação livre, novos espaços serão inaugurados nos próximos dias. A vista é incrível à noite e você já garantiu um belo pôr do Sol. Acreditamos que não foram frequentadores assíduos que cometerem esse estrago. Como é que o bar vai cuidar para que isso não se repita?
R: Teremos que limitar o acesso e selecionar melhor, para isso estamos tramando uma estratégia que acredito vai dar resultado. Uma delas é, não colocar placa, lá não é um bar e sim minha casa quem quer entrar vai ter que se identificar muito bem ou vir com referências. Quanto às depredações ocorridas vamos colocar câmeras e pedir aos amigos que fiquem de olho e nos alertem se virem algo errado.

11) Tenebra, serão muitos anos ainda pela frente tendo você como defensor da cultura alternativa e da diversão fora do roteiro do forró em Campina Grande. Desde já queremos agradecer por você proporcionar a esta cidade um espaço diferente, mas bom para os ouvidos, entende. Respira-se cultura musical na sua casa. O que podemos esperar daqui para frente?
R: Muitas novidades, estamos fazendo contatos com vários produtores de outras cidades, queremos trazer artistas para se apresentar aqui, música, teatro, dança, poesia, áudio visual, exposições de artes e etc., vamos movimentar a cidade e enchê-la de cultura.
Prá começar no próximo sábado vai começar o Festival de Inverno de Campina Grande e a coordenação do festival veio conversar para a gente fazer os afters aqui vão ser 8 dias de muita cultura e troca de conhecimentos e vivências.
E não precisa agradecer, quem vive e respira cultura deve sim articular para que ela cresça ainda mais, e digo, só o coletivo poderá mudar a cena, nem eu sozinho nem ninguém vai conseguir enquanto existir o bairrismo entre os municípios do estado. Que eles se juntem e façam crescer em todo estado. Que criem intercâmbios culturais entre os municípios para a circulação plena da diversidade cultural do estado. 

                     Novembro prá Música no PP (2013). 
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Sócrates Gonçalves é um cearense que adotou a cidade de Campina Grande, para onde veio estudar. Hoje não larga mais os palcos da cidade, seja em bares e restaurantes, ou mesmo em projetos realizados pelo Teatro Municipal de Campina Grande ou do SESC. 
Mais abaixo conheça mais o trilhar desse artista, que para nós é campinense desde pequenininho! (Concedida em junho de 2015, para Carol Cavalcanti)
 

1) Um cearense em Campina Grande, explica essa trajetória de vida para nós.
R: Vim para Campina em 1999 para estudar, mas a saudade e o acaso me apresentaram o mundo mágico das artes visuais e da música. Em um ano me vi fazendo teatro, expondo minhas telas em shoppings e cantando em bares e calouradas (risos).

2) A partir de que ano, Sócrates, iniciou carreira solo? E, como foi tocar sozinho em bares, festas e projetos musicais pela cidade?
R: Em 2003, “pedi pra sair” da banda “Nois”, mas não para trilhar uma carreira solo de cara. Acabei passando 4 anos me dedicando aos trabalhos de designer gráfico, artista visual e compositor, os shows e o teatro ficaram em stand by até 2008. Um convite de Álvaro Fernandes para fazer o Projeto 7 Notas do SESC me fez voltar aos palcos de vez.

3) No início das suas aparições algumas pessoas disseram que seu estilo era essa mistura sambareaggaerockfunquiado”. Como é que você explica essa miscelânea musical?
R: (risos) Acho que era uma maneira que tínhamos (a banda ‘Nois’) de fugir dos rótulos. Prá mim, e para os outros integrantes (Katharine Nobrega, Cayus Uchôa, Pedro Porto, Dea Nascimento, Caliandra Andrade e Mayne Alencar) só existem apenas dois tipos de músicas, as boas e as ruins e o que é bom pra mim pode não ser pra você e vice-versa. Em uma de nossas entrevistas, quando nos perguntaram sobre nosso estilo soltamos um “sambarreggaefunquiado” ou “poprock” com misturebas e os jornais começaram a repetir (risos).

4) Você sofre influência de algum artista em especial? Quais são seus ídolos na música e como eles mexem com seu estilo de música e até mesmo com sua atuação no palco?
R: Escuto de tudo um pouco, mas têm artistas que influenciam e interferem diretamente nas emoções das minhas apresentações, como o Lenine, Adília Uchoa e o meu irmão Edmar Gonçalves.

5) Você compõe, interpreta canções e é instrumentista. Como são essas três vertentes de sua carreira artística. Tem uma que gosta mais que a outra ou simplesmente se complementam?
R: Acho que realmente se completam. Sou “cantautor” por definição, mas sou interprete de coração. Amo recontar as emoções escritas numa canção da maneira que elas me atingiram. Não me considero instrumentista, apenas toco para me acompanhar e para compor (riso).

6) Ficamos sabendo que você é artista plástico...gosta de atuar...você é um multiartista! O que mais te atrai nessas “artes” todas? Como as concilia? Música é trabalho e o resto, pode-se dizer que é hobby?
R: Sou artista, não escolho um segmento artístico porque não sou eu quem os escolhe. A arte me escolheu quando eu nem sabia escolher. Todas são trabalho e todas são hobby.

7) Achamos você bastante romântico nas apresentações e nas suas composições...o que tem a nos dizer sobre isso?
R: Não sei, só sei que sou assim (risos). Me dizem que todas as minhas músicas são alegres e prá cima mesmo que românticas e apaixonadas, e acho que não saberia fazer de outra maneira, não saberia fazer uma “sofrência” a menos que terminasse dizendo “ beleza pode ir”, “É que eu sou tal qual a vara bamba de bambu-taquara, eu envergo, mas não quebro” (mais risos)

8) Pode nos falar do CD Atemporal (2011) desde a composição e escolha das músicas até a gravação como cantor independente, sem vínculo com nenhuma gravadora? É difícil realizar um sonho não é Sócrates?

R: O CD se chamou ‘Atemporal’ por ter desde músicas da época de antes da banda ‘Nois’ que não foram gravadas nem lançadas em shows, músicas compostas para a banda e músicas compostas durante a gravação do ‘Atemporal’. Foi sim uma realização de um sonho e sim foi difícil. Um CD independente acaba não sendo tão independente assim, pois precisa-se de patrocínios e “paitrocinios” (risos), mas com força e fé dá para chegar “lá”, e o bom mesmo não é o “lá”, mas sim aproveitar a ida.

9) O que é o projeto ‘A Arte de Sócrates’?
R: O site é voltado para a minha carreira musical e o link “a arte de Sócrates” é um espaço para mostrar a minha “multiarte” (risos), as pinturas, desenhos, caricaturas, etc.

10) O que tem de bom daqui para frente para o multiartista Sócrates? O que seus fãs podem esperar para os próximos anos?
R: De cara o CD novo, ‘Soul de cá’, que lançarei nas mídias sociais, faixa à faixa com música e clipe, provavelmente, a partir de julho. O nome ‘Soul de cá’ é uma brincadeira com um estilo musical americano: soul significa alma, e se a alma da música de lá é o soul music (soul de lá) a alma da música de cá é a MPB (Soul de cá). A ideia de não lançar um cd físico é por ter percebido que as coisas na geração smartphone são efêmeras e as músicas de um cd de faixas acabam sendo engolidas pelo sucesso de uma ou duas do próprio cd. Desta forma o cd ‘Soul de cá’ será mais atemporal que o atemporal. Nas outras artes não tenho um planejamento. Tenho exposições, no plural mesmo (risos), quase prontas e que irei lançá-las à medida que forem ficando prontas, pois não consigo concentrar em uma, vou pintando conforme as telas vão pedindo para nascer.

OBS: Pense num menino prá rir gostoso! (risos nossos)
Mais notícias é só acessar http://www.socratesgoncalves.com/ 
Quer ouvi-lo cantar? Acesse http://palcomp3.com/socratesgoncalves/ ou https://soundcloud.com/socratesgoncalves
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Adília Uchôa é Pedagoga com Habilitação em Educação Infantil. Com duas especializações também é Mestre em Formação de Professores; tudo pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Atua como professora e formadora pedagógica lotada na Secretaria Municipal de Educação de Campina Grande (PB). Há alguns anos publicou o livro infantil intitulado “Palavras, Canções, Poesias” (hoje com edição esgotada) com parte dos poemas musicados. Lançado pela Secretaria de Educação Municipal o ajustamento feito entre as partes era que o livro/CD fosse distribuído nas escolas e creches municipais. O mais bonito é que, ainda hoje, professores continuam construindo possibilidades de trabalho, utilizando-o. A autora ainda têm outros livros sendo analisados por editoras nacionais. (Concedida em abril de 2015, para Carol Cavalcanti).

1) Nascida em Caicó, no Rio Grande do Norte, como veio parar em Campina Grande (PB)? Definitivamente adotou a cidade, não é? 


Papai vivia sendo transferido. Veio do Ceará para Pernambuco, quando conheceu mamãe. Depois Rio Grande do Norte, quando nasci, Pernambuco outra vez e Paraíba. Primeiro em São Gonçalo e quando eu estava com 12 anos, Campina Grande onde nos fixamos. 

2) Quem é Adília Uchôa? Poeta, cantora, mãe, amiga, professora...?

Sou uma pessoa como qualquer outra, representada no entrelaçamento de tudo isto que faço e que sou eu. Pensar-me poeta é como saber que encontro aí uma forma de dizer, quando as palavras pulam, o que sinto, o que me falta, o que penso, o que desejo, o que me inquieta...

A minha “cantoria” é algo que ferve, cintila e dói. Cantar é estar oferecida e desnuda na minha inteireza. Algo que me reporta a “Minha Voz Minha Vida” de Caetano Veloso: 


"Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto
Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente porque eu
Trago a vida aqui na voz".

Minha maternidade é plena de beleza. Natural na minha condição feminina. Para mim, dar cria é distribuir-me. Consigo ser a mãe que cada cria necessita no jeito de ser de cada uma. Tenho três. Aprendo a ser mãe sendo todos os dias. Mãe é corpo casa, color que abrasa, cantiga de aia! É o amor mais fiel e despretensioso que existe. As crias não precisam fazer ou dar coisa alguma para serem amadas. Simplesmente são.
Como amiga, sou de verdade. Discreta, presente quando é para ser, aceito meus amigos e amigas como são e eles/elas também a mim. Sou disponível e conto tudo.
Como professora, lido com crianças na 1ª Etapa da Educação Básica em creches e escolas públicas e em alguns momentos, com professores em formação para este segmento educativo.  Entendo a criança pequena como um ser de Direitos que, a partir do brinquedo, aprende, compreende e se situa no mundo intervindo nele desde muito cedo se relacionando, escolhendo, experimentando. Esse processo precisa ser construído com compromisso pedagógico reflexivo, por parte dos professores, vislumbrando a formação de valores, compreensão de si e do outro, compreensão da diversidade, da pluralidade cultural numa perspectiva contextualizada, social e cidadã.  

3) Adília, você já abriu muitos shows importantes (Selma Reis, por exemplo) em projetos musicais em Campina Grande. Concorreu por patrocínio para apresentação de projetos musicais que reinventaram Milton Nascimento (2012), Ângela Maria (2014), como os oferecidos pelo SESC. Como é a exposição após shows tão importantes e ao mesmo tempo ter que batalhar recursos para apresentação de espetáculos musicais?

Iniciei minha vida cantante desde muito pequena, na igreja e escola. Publicamente, para Campina Grande, no final dos anos 70, quando participei do 1º FUMPO – Festival Universitário de Música Popular no qual, o grupo que participava, nesse momento, ganhou o 1º e 3º lugares, como também o melhor arranjo e fui escolhida a melhor intérprete. Daí nasceu o Grupo Cicatriz. No decorrer do tempo fui participando de corais, Festival de Inverno, banda de baile – Musical Harmonia, muitos projetos musicais. Dentre eles o Projeto 7 Notas, que tenho participado desde o primeiro e me oportunizou e oportuniza pesquisar grandes compositores e intérpretes nacionais. Além dos citados na pergunta, passeei pela obra de Chiquinha Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, Ary Barroso, Gonzaguinha, Clara Nunes, Tim Maia, etc. Viver essa arte, na conjuntura do nosso município, tem o lado prazeroso e o lado árduo porque tenho que ser artista, produtora, diretora, sair pela rua pedindo cachê antecipado para músicos e quando chega a hora de estar no palco, muitas vezes, estou cansada e tensa. Apesar de tudo isto, tenho encontrado alguns colaboradores, muito poucos, mas, tenho. Posso citar a Cultura Inglesa na pessoa de Miguel Junior, o Teatro Municipal, na pessoa de Erasmo Rafael, o SESC Centro, na pessoa de Álvaro Fernandes, A TV Itararé, na pessoa de Saulo Queiroz, entre outros. Durante minha trajetória só tive dois diretores: Álvaro Fernandes e Saulo Queiroz. No que se refere a exposição após shows importantes, a cada vez, tem mais reconhecimento. As pessoas parabenizam, comparecem aos shows seguintes e assim, vou encontrando meu lugar como Artista-Cantora que, pela música, posso dizer do mundo, da vida, das emoções...

4) Há algum projeto definido para esse ano no SESC, Cultura Inglesa ou Teatro Municipal? Como é seu processo de escolha dos intérpretes e das canções?

Sim. Estou concluindo as gravações de um EP (normalmente um EP tem de 4 a 8 faixas e dura no máximo 35 minutos) para a Cultura Inglesa, tenho show nesse próximo dia 18, parte do projeto “Noites de Abril” no Campina Grill, outro show “Bazar das Ilusões” na Sala Paulo Pontes do Teatro Municipal Severino Cabral. Pretendo enviar projeto para o 7 Notas deste ano que chega com um tema bem nosso e devo propor um trabalho com a obra de Socorro Lira ou As Caianas. Já estou em processo de pesquisa. E pretendo participar do Festival de Inverno que estou também preparando o projeto para submeter a avaliação esperando que seja aprovado.
Quanto a escolha dos intérpretes e canções, vem das minhas afinidades, referências e crenças porque ...

"Eu tenho uma espécie de dever,
 dever de sonhar,
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que
uma espectadora de mim mesma,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco, cenário,
para viver o meu sonho
entre luzes brandas
e músicas invisíveis”.

                                              (Fernando Pessoa)

5) Adília, ultimamente percebemos o seu lado poetisa mais aflorado. Como é que você compõe? De onde vem tanta inspiração e tão belas palavras?

Não sei precisar muito sobre a minha poesia. O que posso dizer é que sinto, em alguns momentos, uma espécie de inquietação, impulso ou quando vejo nas coisas simples, doídas e cotidianas, algo diferente, as palavras pedem para serem escritas. Adélia Prado já comentou que quando vê numa pedra outra coisa, faz o mesmo. E nascem as canções ditas na cadência da palavra e me torno poeta confessional. Não sei dizer nada fora de mim mesma. Quando não é algo pessoal, é o que penso, acredito, observo e sinto.

6) Somos fãs do seu percurso, das suas palavras. É inegável. Diz para a gente como foi compor Ipê.

Acordei cedo e saí sob uma brisa suave e havia alguns ipês floridos que me chamaram a atenção. Desejei observar aquela paisagem com um amor. Era uma paisagem muito linda, calma e risonha. Tive que sentar por ali e escrever. Sou uma mulher romântica. Assim nasceu meu/minha poema-canção Ipê.

 Ouça a apresentação da canção para a TV Itararé (2014)

7) Parece que você anda se aventurando pelo mundo das trilhas sonoras para filmes. Como é essa nova experiência?

É diferente. O cinema tem uma dinâmica muito própria. As gravações ocorrem em um processo mais demorado. Uma cena de dois minutos, por exemplo, é gravada em meia hora. Isso por peculiaridades próprias do cinema que dá margem para ajustes posteriores e outras possibilidades que não sei muito. No mais é cantar. Cantei para dois curtas: “O Avesso do Avesso” sob a direção de Allan Fernando e “Balaio” convite do Curso de Arte e Mídia sob a direção de Luciano Mariz. Há poucos meses recebi um convite para encenar um curta que está sendo escrito por Sinedei Moura.  Na ocasião do convite, me perguntaram se eu beijaria outra mulher em cena. Eu falei que sim, sem problema. Vamos ver onde vai dar essa história. Fiz alguns cursos de teatro e dança, pensando como complementos de minhas “cantorias” quanto a expressividade e o movimento. Não sei se vai ajudar. Vou tentar.  

8) Adília, você é bem conhecida aqui em Campina Grande. Tem fãs de todas as idades, que não perdem uma apresentação sua. Essa exposição local é suficiente para a artista ou você quer mais?

É verdade. Hoje sou bem conhecida e tenho o carinho de muitas pessoas que estão sempre presentes em meus shows. Sou muito grata por isso. É muito bom o espaço que tenho aqui, mas se surgirem outros voos, sem dúvidas, voarei. O meu tempo é hoje e agora. Então...

9) Você convida muita gente conhecida e anônima para subir ao palco com você. Quais os melhores encontros e como é trabalhar com artistas novatos?

Não sei dizer qual o melhor. Quando convido uma pessoa já conhecida ou não, o faço porque gosto da pessoa, do talento dela e do jeito que esta pessoa realiza sua arte, mas quando é uma pessoa desconhecida, o meu maior desejo é torná-la vista artisticamente. 

10) Sabemos do seu lado devoto, cristão. Música e religiosidade estão unidas na vida da pessoa Adília e da artista Adília Uchôa? Como é esse encontro?

A música sempre está onde eu estou, fazendo o que estiver. Na verdade, me vejo mais espiritual que religiosa. Nasci numa família católica, sinto a necessidade de frequentar o templo e me comprometer com trabalhos pastorais, mas tenho muita admiração por outros credos. O mais importante é a certeza de Deus, seja onde for, do modo que for. 
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Nossa primeira entrevistada dispensa comentários e mais delongas. É paraibana da Serra da Borborema. É de Campina Grande. Sempre alegre e sorridente estará lançando seu 3º livro essa semana. É nossa seguidora, é nossa amiga....é Fidélia Cassandra. (Concedida em agosto de 2013, para Carol Cavalcanti).



1) Fidélia Cassandra, em um perfil social seu na internet você se intitula como “inventora de músicas”. Tocar algum instrumento musical é realmente necessário para compor músicas? Como anda sua carreira musical tendo em vista que já se apresentou em diversas cidades do Brasil e fora dele?

Sim, invento música, então sou compositora, mesmo que não toque um instrumento como um violão, piano, violino, mas meu instrumento é minha voz que, por sinal, anda meio "enferrujada" por falta de uso efetivo, contínuo. É como qualquer outro instrumento. Necessita ser tocado, exercitado... amado.Minha carreira não anda. Está parada. Dei mais uns anos de recesso a ela, dessa vez, pretendia deixar mesmo de cantar de vez... Mas, aí vem Adília Uchôa e Lara Sales... tiraram-me da minha aposentadoria forçada... Vou voltar a cantar e disso, parece, não tenho escapatória... nem que queira. Cantar está no meu sangue. Se não canto, a vida não fica completa...

2) Você já participou muito de festivais de músicas e projetos locais de divulgação da música nacional, como o Projeto Sete Notas do SESC – Campina Grande. Hoje, podemos encontrá-la divulgando outros artistas. Como é estar no palco, ser a artista principal e, estar por trás, no backstage?

Algumas vezes, fico triste, porque o palco é o melhor lugar que eu posso estar e cantar me faz feliz e, muitas vezes, tive que abrir mão desse prazer, dessa alegria por circunstâncias adversas da minha vida. Porém, por outro lado, acho que é meu dever abrir caminhos... muitas aberturas me foram negadas. Muitos de nós não encontraram reconhecimento aqui. Não quero fazer o mesmo. Quero ser ponte, esteio, mão que dá um empurrãozinho.

3) Em 2002 você lançou seu primeiro livro de poesias, “Amora”, pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB) e que teve sua segunda edição em 2010. Fale-nos um pouco dessa experiência e da satisfação que teve como o lançamento. Qual a relação dessa memória expressa em poemas e sua habilidade de doceira?

Amora foi lançado em 2002, pela Editora Manufatura, de João Pessoa, e foi custeada por um grande amigo. Uma tiragem pequena de 300 exemplares. Em 2010, a EDUEPB me deu a grande oportunidade de uma segunda edição e foi uma das maiores alegrias que tive na vida. Em 2008, a Editora da Universidade Federal de Campina Grande havia me presenteado com a publicação do meu segundo título Plumagem. Comecei a fazer poemas aos doze anos, muito tempo antes de adquirir a habilidade de cozinhar que me veio da minha mãe. Com ela aprendi a primeira geleia, de ameixa que, anos depois, incrementei e comecei a fazer outros doces caseiros e de frutas e outros tipos de geleias. Fui lendo, pesquisando...uma pesquisa muito bonita e poética, tão poética quanto ler Poesia -sempre com letra maiúscula para mim - escrever. Elas têm para mim uma relação muito próxima comigo e com o mundo que me rodeia.



4) No ano de 2008, lançou “Plumagem”. Fale-nos um pouco sobre esse trabalho. O mesmo tem alguma relação com os cinco sentidos humanos?

Antecipei-me um pouco, às suas perguntas, e fui logo falando de PLUMAGEM. Plumagem é muito sinestésico, aliás, acho que minha poesia é muito sinestésica. Agora, a plumagem é meu elmo, minha couraça, meu disfarce... Preferi a plumagem à dureza de escudos, embora, muitas vezes, minha poesia é seca e dura...


5) No dia 9 de agosto de 2013 estará lançando o livro de poemas, “Melikraton”, no Museu Assis Chateaubriand (MAC-PB). Segundo Edmundo Gaudêncio, professor, psicólogo e escritor, os 125 poemas de sua autoria são uma “beberagem de múltiplos sabores”. Como você explica essa impressão?

A Poesia é minha bebida predileta... e ela pode ter outros nomes: melikraton, hidromel, cicuta, veneno, mel... A poesia é uma beberragem de muitíssimos sabores e olores e dolores. Um misto de doce e amargo para mim.

6) Qual a relação dos aspectos da cultura nordestina presentes nessa obra e a escolha de uma palavra grega para intitulá-la?

A palavra é universal... Não importa o idioma, ela pode ser reinventada e utilizada de uma forma mimética... Há em Melikraton alguns poemas escritos a quatro mãos e outros que escrevi sozinha que remetem à mitologia grega, pois tentava escrever um novo livro de poemas sobre a heroína Penélope, mas que se perdeu no emaranhado cibernético do computador. Um vírus levou quase tudo... Quase enlouqueço e tive um grande período em que não conseguia escrever. E quando voltei, como estava muito imersa no universo grego Melikraton veio e me dominou... Não pude escapar da armadilha armada por essa palavra. Melikraton traz poemas com temas que nunca ousei tocar como as palavras da minha pátria nordestina. Para mim, elas eram intocáveis, impronunciáveis... É minha língua, mas tinha receio em dizê-la, talvez porque me trouxesse para junto de coisas muito doces e, ao mesmo tempo, amargas.

7) “Melikraton” ou hidromel, é uma bebida alcoólica fermentada à base de água e mel. Você resgata mais uma vez a questão gustativa nessa obra? Ou a relação está mais para a tradição que remete para o consumo da bebida durante o primeiro ciclo lunar e a concepção de um filho homem?

Como te falei os sentidos estão muito presentes no que escrevo e, principalmente o paladar e o olfato. Nesse caso, em especial, o paladar... Mais uma vez a questão gustativa vem à tona em Melikraton. Não me apeguei a outros aspectos que não esse.

8) Fidélia, já preparou ou tomou melikraton? Ou a bebida está no simbólico dessa sua obra?

Nunca preparei nem tomei hidromel... Ela está na obra simbolicamente... no lugar das beberragens, da cachaça, da aguardente... Da minha embriaguez diante da vida, mesmo já não sendo tão jovem... Mas, a embriaguez é intrínseca à arte.

9) Quais as semelhanças ou diferenças entre o livro atual e os anteriores? E, quais são os autores que influenciam a escritora Fidélia Cassandra?

As semelhanças estão nos poemas curtos, na sinestesia... na recorrência, até exagerada, do gustativo. Melikraton é meu livro mais confessional. Falo muito de mim, do meu passado, principalmente de impressões e ocorrências da infância e adolescência. As casas de meus avós paternos e maternos estão muito presentes. Não seu dizer bem onde estão as diferenças...

10) O que podemos esperar daqui para frente da artista Fidélia Cassandra? Quais seus próximos projetos?

Da artista, daqui pra frente, talvez, não muita coisa, mas tenho projeto para este ano. Farei um show denominado MODINHAS FORA DE MODA com as queridas Adília Uchôa e Lara Sales. Um show que objetiva resgatar canções e compositores que muitos esqueceram e outros tantos nunca ouviram nem falar.

Namorinho de Sofá agradece a prontidão da artista e confirmamos presença na cobertura do lançamento no MAC-UEPB no dia 09/08/2013. Faremos a cobertura com prazer, com o anseio de mel e água na medida certa em nossa alma!

6 comentários:

  1. Estarei no lançamento com maior prazer!

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  2. Muito boa a primeira entrevista do blog, bem como a gentileza da artista. Palavras forte e mais poesia em forma de entrevista. Nos vemos na sexta-feira no MAC.

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  3. Agradeço profundamente pelo espaço concedido para a entrevista publicada e agradeço a repercussão vista em tantas curtidas e comentários. Espero encontrá-los em breve no show que farei dia 20 de maio às 20:00 na Sala Paulo Pontes do Teatro Municipal. Beijos!!!

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  4. Adorei conhecer os entrevistados.Cultos,inteligentes e tão simples.Parabéns a todos. NORMA VALLE

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  5. Grata Norma por sua participação. Abração.

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